sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Tem dia que de noite é foda ou todos vamos morrer.


Não decidi voluntariamente escolher esse assunto para "inaugurar" o meu possível futuro blog (não sei se terei paciência de manter um). A coisa foi totalmente "imposta" por um algo que tem vontade própria e não pergunta quando e como deve fazer as coisas, algo que faz parte de mim mas que não tenho como controlar, medir, classificar, cheirar, tocar. Atônito diante de minha incapacidade de "domar" esse pensamento, essa vontade, me deixei levar pra onde ele queria e me mostrar o que desejava.

Desde de muito cedo tive a clareza de que "a única certeza da vida é que vamos morrer um dia". Esse clichê, a despeito da futilidade inerente, é uma das poucas verdades universais incontestáveis e que acabamos não dando uma atenção maior. Talvez pelo nosso instinto natural de viver, afastamos qualquer coisa que nos lembre o fim da vida. Sempre falei que não tinha medo de morrer, só gostaria que não doesse muito... mas, acredito cada vez mais, que sim, tenho medo de morrer! Analisando mais friamente, tenho medo da morte como um mistério insolúvel pelos ainda viventes.
Há teorias, conjecturas, "certezas" religiosas, mas no fundo ninguém tem certeza. Quando se é muito jovem nem se quer se pensa nisso (de maneira geral, claro), mas chega um determinado tempo de nossa vida que esse fato, a fatídica e inevitável morte, nos cai com toda força e impassividade, se mostrando com uma simplicidade cruel: todos vão morrer. A "ficha" caiu para mim recentemente, mas não foi do nada. Não, antes do dia "D" ela já me vinha se deitar comigo a noite, me esperava no banheiro, sentava ao meu lado no ônibus, se metia no meio das letras do livro que lia, de forma sutil na maior parte das vezes, mas firme e sem deixar dúvidas. Acho que ela estava preparando o terreno pra, enfim, se revelar totalmente e me tirar o sono e deixar-me com várias dúvidas, perguntas. O meu medo da morte não está pelo fim da vida em si e sim pela sensação de vazio que fica para o "depois". Vamos renascer ou simplesmente desaparecer, sem consciência de nada? Vamos para o "céu", para o inferno, vamos vagar sem rumo, "ficar" no "nada"? Ou simplesmente não vamos nada? Nada? Que droga é não ter a certeza de coisa alguma! Feliz é aquele que não tem dúvida, seja qual for a fonte de informação. Queria ser um desses que não duvida, que sabem o que os esperar ou não espera.

Enfim, a morte nos espera, caminhamos em direção dela. Como ocupar esse tempo que nos resta é outra questão interessante e quem sabe eu escreva algo sobre o assunto.

Canto para minha morte (Raul Seixas)

Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar

Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?

Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas... Um acidente de carro.
O coração que se recusa abater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...

Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos, na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...

Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

Sem muito assunto pra começar, vai uma citação que gosto muito.

"O caminho do homem de bem é cercado de todos os lados pelas iniqüidades do egoísmo e tirania dos homens maus. Abençoados os que, em nome da caridade e boa vontade, conduzem os fracos pelo vale das sombras, pois ele é o guardião de seu irmão e o que encontra os filhos perdidos. E eu vou atacar com vingança e fúria os que tentarem envenenar e destruir meus irmãos. E quando minha vingança se abater sobre eles, saberão que eu sou o Senhor." (Ezequiel, 25, 17)